* Maria Marleide
da Cunha Matias
Em
um tempo anterior as profundas transformações sociais, econômicas, culturais e
tecnológicas das quais somos produtos hoje, o dramaturgo alemão Bertolt Brecht
escreveu em um célebre texto que o pior analfabeto é o analfabeto político.
Para Brecht, o analfabeto político “não ouve, não fala, nem participa dos
acontecimentos políticos ... é tão burro que se orgulha e estufa o peito
dizendo que odeia a política”. Hoje o mundo mudou e com ele o analfabeto
político mudou sua forma de se apresentar na sociedade, restando apenas de
comum com a formulação Brechtiana, o ódio a política que atualmente é alimentado
pela propaganda publicitária da antipolítica.
Ao
contrário dos tempos de Brecht, o analfabeto político moderno participa dos
acontecimentos políticos, se reúne em coletivos, fala em redes sociais, repete
verdades prontas como se não existisse outro ponto de vista e compartilha
discursos preconceituosos e mentirosos sem a menor reflexão crítica, ao mesmo
tempo em que apoia regras de proibição de discussão política em grupos de Whatzapp.
Ele é insensível a dor do outro e não pensa nas causas e consequências dos seus
atos. É uma pessoa carente de pensamento crítico que sofre um processo de
de-formação do pensamento.
O
analfabeto político moderno é produzido e manipulado pela indústria cultural da
antipolítica (Tiburi, 2016), que pela propaganda publicitária de esvaziamento
da ação política produz uma política despolitizada, que nada mais é do que a
introjeção de uma nova política.
A
propaganda antipolítica que ridiculariza a política e leva o povo a rejeitá-la,
difunde discursos e práticas que atuam no sentido de construir a ideia de
deterioração e deturpação do sentido da política, com o objetivo de nos afastar
dela e pensar que a sociedade sem política é melhor. Ao mesmo tempo vemos
pessoas e grupos antipolíticos que se candidatam, fazem o discurso da negação
da política, disputam o voto do povo, se elegem, ocupam espaço de representação
política e ainda dizem não serem políticos. E o povo que acredita nesse jogo
cínico é feito de imbecil pelo “pior de todos os bandidos, que é o político
vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das em presas nacionais e
multinacionais”, retomando a formulação de Brecht.
Diante
dos acontecimentos atuais de ridicularização e descrédito da política e dos
políticos é importante refletir: De que nos serve a rejeição e negação da
política? A quem interessa abandonar a política? Quem ganha e quem perde com isso?
O
ser humano é um “animal político”, para citar a expressão de Aristóteles. Não
somos como as formigas ou abelhas que tem sua função social transmitida pelo
código genético, somos seres políticos que dialogamos, negociamos e criamos
laços comuns para boa convivência em sociedade e isso requer a defesa de
direitos para todos e respeito por cada um. Para a filósofa Marcia Tiburi
(2018), “ é impossível não fazer política se todos os nossos atos humanos,
apenas são humanos porque são políticos. Fazemos política consciente ou
inconscientemente, o tempo todo, por ação ou omissão”. A destruição desse ser
político sujeito de direitos é produzida pela antipolítica que promove a
interrupção da capacidade de pensar, de refletir e de discernir sobre o bem
comum. E é nessa interrupção do pensamento crítico que cresce o analfabeto
político moderno, como um boneco ventríloquo do antipolítico. É urgente
desenvolver processos de alfabetização política se quisermos sonhar com a
ruptura dos jogos de opressão, dominação e exploração. Mais do que nunca
precisamos de homens e mulheres alfabetizados politicamente.
Referências
Bibliográficas
TIBURI,
Marcia. Como conversar com um fascista. 8º ed. Rio de Janeiro: Record, 2016.
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Ridículo Político: uma investigação sobre o risível, a manipulação da imagem e
o esteticamente correto. 4º ed. Rio de Janeiro: Record, 2018.
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Mestra em Educação e presidenta do Sindiserpum.
Publicado em 16 de agosto de 2018. © Assessoria de Comunicação Sindiserpum.
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